sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

A LEOA, O BOBO DA CORTE E A COBRA DE VEADO. 04 DE FEVEREIRO DE 2012

Os leitores do DitoBendito  talvez não entendam o conto de hoje.  Resolvi exercitar minha criatividade  contando  história. Portanto, como nas novelas, onde tudo parece muito real, qualquer semelhança terá sido mera coincidência.


        Era uma vez  um  candidato ao Reino da Serra  que vivia   num lindo Palácio, cercado de verde, há muitos e muitos anos,  com a esposa,  filhos  e seus empregados. E, quase todos os dias, recebia um grupo de babões que  o visitava, sobretudo, a noite.

     Durante anos esse turma,  pela natureza da função, não  percebia quando estava sendo inconveniente e  nem a hora de retirar, mas , havia um primo dourado,  que sempre  dizia: Vamos, vamos  todos, pois  é tarde e o  futuro Rei, precisa descansar. Segundo contava um  outro  primo, chamado Mário Fofoca.

     A esposa, antes mesmo do rei chegar ao  trono, já era  uma mulher para além das convenções sociais.  Nascida numa província  do Reino do Gavião, de origem humilde,  construiu amigas por todo Reino da Serra. 

      Adepta de uma boa taça de vinho nas noites frias, ou uma cerveja  gelada no calor, era vista  no Reino brindando e se divertindo entre a plebe, tal  Rose no porão do Titanic.

      Mas,  chegou  o momento que o eterno candidato assumiu, finalmente, o Reino. Com a  retomada do trono  oligárquico, o grupo de babões foi crescendo, crescendo, parecendo até  do  tamanho daquele que ocupa, todas as manhãs,  o "chiqueirinho" no Palácio do Planalto  para ouvir e saudar  o Asno que  relincha.

   Mas, enquanto o gado mantem o seu papel de  claque,  eis que surge no Reino, uma cobra, que  fora indicada para  cuidar da saúde de todo Reino, visto que uma doença grave ameaçava  nobres e pobres. Mas, ao invés de fazer somente a sua tarefa, a  cobra acreditava que  tinha o direito de  cuidar também da vida privada  da rainha. 

 Invejosa e despeitada, a serpente  começa a destilar a sua peçonha  no Palácio e resolve envenenar o casamento do Rei; Majestade, majestade não sei se devo dizer, porém  como "fiel"  escudeiro que sou, não posso calar. A  rainha,  Majestade,  foi vista  em meio ao povo, divertindo-se com amigas. E isso, Alteza, asseguro-lhe,  não condiz com o comportamento de uma rainha.   

      O rei  ouve aquilo e, emprenhado  pelos ouvidos, passa a mão na testa,  não raciocina e  nem percebe  que ali  estava uma intriga. Intempestivamente, como costuma agir em seus momentos de burrice, resolve chamar a rainha imediatamente de volta ao Palácio, enquanto a  cobra, festiva com o efeito da intriga, sai sorridente lambendo o próprio veneno.

        A rainha,  ao estilo Carlota Joaquina,  contrariada no seu lazer, e ao chegar  no Palácio  "desceu das tamancas" e  perguntou ao rei e aos  criados:  Me digam, agora,  qual foi o último animal a cruzar a cancela  do Palácio? 

    A criada, assustada com a ira da rainha,  respondeu:  Alteza,  acho foi uma cobra. Sim, sim  foi a cobra de veado, Alteza.

      A rainha irada,  ordenou   através do  arauto  I phone, que a serpente voltasse lá, de imediato. E, ainda tal qual Carlota Joaquina, colocou a cobra de veado numa posição humilhante,  diante o rei silencioso. 

     A venenosa, que embora tenha o seu poder sufocante, como o vírus assassino do momento,  enfiou o "rabo entre as pernas" e saiu  farejando com a língua,  como faria para voltar a circular no  Palácio e   às boas com a rainha.

      Passados  três dias, lá se vem a bichona,  rastejante,  tentar enlaçar a Rainha.  Enroscada,  como  um  emoji de "cocô" da era digital,  dá o bote: Bom dia, Alteza!  Aqui estou para me desculpar  e lhe trouxe de presente este livro, da escritora Margaret Atwood,  chamado  O conto da Aia.

   A Rainha, que não  conhecia o livro,  entendeu que a cobra estava   tratando-a com uma intimidade que não permitia, e, ainda,  "P da vida"  fez com que a bicha  peçonhenta  rastejasse à saída do Castelo  com seu livro pendurado na língua.

         Felizmente,  no Reino,  a rainha  mostrou que  é uma  leoa,  e o rei,  que  pareceu mais  o bobo da corte,  por ouvir  conselhos de uma cobra de veado, se  recolheu aos  aposentos, enquanto as amigas plebes  gritavam: Viva a rainha, viva a rainha!!!

        Moral da história: Seja o rei, não deixe que uma cobra de veado  lhe faça de bobo, e  nem  interrompa  uma mulher  quando ela  bebe  com amigas. As rainhas não usam mais  coroas  nem espartilhos, vestem shorts e tomam todas, quer gosto o rei, quer não goste. 

       E viva a rainha do Reino da Serra  Devastada. 

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